Há alguns anos pensava-se que o insucesso escolar ocorria principalmente em crianças com baixo QI ou de baixo nível sócio-económico e portanto com poucas condições para estudar. Ultimamente tem-se verificado que este problema atinge todo o tipo de famílias, mesmo aquelas com um nível cultural bastante elevado e que não estavam habituadas a este tipo de dificuldades.
Apesar do problema que isto representa a nível nacional e das tentativas do governo para o resolver, ainda não há indícios de que esteja a inverter-se.
A nível familiar muitas vezes a situação torna-se dramática. Pode começar a sentir-se, logo no primeiro ano de escolaridade, que aquele filho, acerca do qual havia tantas expectativas, não está a corresponder minimamente a elas. Frequentemente entra-se num processo de bola de neve, em que todos vão ficando cada vez mais stressados (incluindo a própria criança, claro!) e a possibilidade de ela vir a obter bons resultados vai ficando mais remota.
Podemos também encontrar outros problemas associados a este, como anorexia, rebeldia, hiperactividade, dificuldade de concentração, pensamentos suicidas, etc.
Para a família isto normalmente causa grande sofrimento. O tempo de estudar ou de fazer os trabalhos da escola torna-se muito tenso para todos e essa tensão acaba por afectar outras áreas da vida familiar. As pessoas, principalmente os pais, começam a sentir-se extremamente preocupados e não conseguem perceber como é que isto pode estar a acontecer-lhes. Podem pensar que a culpa é do filho - que não estuda, não se esforça, não toma atenção nas aulas, etc. - e muitos chegam mesmo a verbalizar isso. A sensação de insegurança em relação ao futuro desse filho é grande, mas talvez o mais difícil seja a impotência que os pais sentem para mudar alguma coisa ou para fazer com que o filho perceba essa necessidade e mude.
Mas para estas crianças a situação também não é fácil. Eles vão ouvindo que não têm tanta capacidade como as outras crianças e acabam por acreditar nisso. Passam a achar natural os constantes resultados negativos. Normalmente são crianças que não têm quaisquer perspectivas para o futuro. Quando já estão na adolescência, podem dizer que não vão ser sempre assim, que um dia vão mudar. Mas não têm qualquer noção de como essa mudança irá ocorrer, ou algum plano para a concretizar. Vulgarmente assumem uma atitude de desinteresse e despreocupação em relação às suas dificuldades, muitas vezes como forma de auto-protecção - se eles não tiverem quaisquer expectativas, não irão ficar desapontados por não as conseguirem realizar.
Uma das opções mais seguidas nas situações de insucesso é arranjar explicações ou algum tipo de apoio nos estudos, para essa criança. Acaba por se tornar um ciclo vicioso interminável, em que parece que ela irá precisar de apoio para sempre. Isto acontece porque se está a lidar apenas com o aspecto exterior do problema. É a mesma coisa que ficar durante anos a tomar analgésicos para uma dor cuja origem nunca é pesquisada.
Não basta explicar outra vez a matéria que ele já ouviu na escola, nem mesmo explicá-la de forma diferente. A criatividade no ensino é muito importante mas não é suficiente. Também não é possível arranjar uma solução igual para todas as crianças “problemáticas” e que funcione bem. É preciso analisar e perceber o que se está a passar e o que está a causar isso.
Só conhecendo aspectos como as motivações dessa criança / jovem, os seus sentimentos ou a dinâmica dos seus relacionamentos interpessoais, por exemplo, podemos lidar e resolver problemas como insucesso escolar, depressão, tendências suicidas, violência, etc. Não é possível resolver um problema lidando apenas com os seus sintomas. É necessário ir àquilo que o está a provocar e começar a mudança a partir daí.
Frequentemente a família já não sabe como lidar com vários aspectos do seu dia-a-dia e precisa de orientação e apoio práticos para quebrar essa espiral descendente de stress e falta de esperança.
Nem sempre se começa por trabalhar com a pessoa que aparentemente tem mais problemas. Por vezes começo por apoiar apenas a mãe ou o pai, se são eles que estão dispostos a isso. Através deles e à medida que vão percebendo o problema e como funciona, acaba por se conseguir melhorar o ambiente familiar e os seus “sintomas”, diminuindo assim a tensão que se tinha desenvolvido nos relacionamentos.
Para haver mudança profunda e duradoura é sempre preciso compreender a raiz do problema e a forma de levar à transformação interior. Nós somos seres de hábitos. Por um lado isto diz-nos que é difícil mudar velhos hábitos mas, por outro, também mostra que é possível aprendermos novos hábitos, novas formas mais eficazes de lidar com os problemas. E um hábito que o aconselhamento estimula e desenvolve é o de identificar e compreender as causas de um problema e de começar a tomar medidas práticas e concretas para o resolver.
16 fevereiro 2010
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