Para mim, quando eu era
muito mais jovem do que agora, o estado normal das coisas era estar a
trabalhar. Mesmo em férias, fins de semana ou outros tempos supostamente de
descanso, eu arranjava coisas para fazer.
Hoje em dia, a maioria das
pessoas vive completamente esmagada pela pressão de "produzir". Somos
condicionados a acreditar que, para que o tempo seja proveitoso, devemos ter
algo, algum resultado do nosso trabalho, para mostrar.
Ninguém pensaria ter um
aparelho a funcionar indefinidamente com a mesma carga na bateria. Regularmente
é preciso ligar a bateria à corrente e permitir, pacientemente, que ela
carregue. Para nós, isso é óbvio em relação a um aparelho, mas muitas vezes nem
nos passa pela cabeça que o nosso corpo precise do mesmo tipo de cuidado.
Eu creio que a eficácia
daquilo que fazemos é muito importante, tanto a nível pessoal como
profissional.
A nível pessoal, podemos
verificar como é fácil as coisas começarem a complicar-se. Normalmente pensamos
mais nas intenções que temos do que nas estratégias para as alcançarmos. Uma
intenção, ou mesmo um alvo, podem ser perfeitos. Mas, se não houver um
planeamento cuidadoso e um desenvolvimento das capacidades necessárias para o
alcançar, é pouco provável que obtenhamos o resultado que desejávamos.
A nível profissional,
também se verifica que, muitas vezes, o foco está naquilo que se quer e não na
eficácia dos meios para o alcançar.
Há alguns anos tive um
jovem formando que se estava a preparar para participar nas próximas
olimpíadas. Ele foi comentando comigo os cuidados e restrições que tinha, para
conseguir não só suportar o treino extremamente intensivo mas também alcançar
resultados que lhe permitissem ficar entre os classificados.
Para nós isto parece
normal num atleta de alta competição mas... porque é que tu não és também um
atleta? Não me refiro a entrar em competições desportivas, mas em desenvolveres
e usares o teu potencial ao máximo. E para isso, tal como para um atleta, uma
das coisas fundamentais é "recarregar as baterias".
É fácil nós trabalharmos
no "automático" mas a qualidade do nosso trabalho e dos nossos
relacionamentos sofre fortemente com isso. Por vezes pensamos que é lucro
continuarmos a esforçar-nos sem parar. Muitas vezes tenho ouvido o comentário
"Não me posso dar ao luxo de descansar". Mas o não descansar tem um
custo, por vezes muito alto. Uma das componentes, em muitos dos relacionamentos
quebrados com que tenho trabalhado, foi a falta de tempo para cuidar do
relacionamento. Muitos dos acidentes de trabalho ou decisões pouco sábias, têm
a ver com falta de tempo para descanso.
A ideia de que mais tempo
a trabalhar significa maior produtividade não passa de um mito absurdo.
Para conseguirmos
funcionar com qualidade, é fundamental planearmos tempos de descanso. Em tempo
de férias, é importante mudarmos de ares e de ambiente nem que seja só por
alguns dias. Mas também é preciso o descanso "contínuo" ao longo do
ano. Pode não ser fácil, mas é um bom investimento planear alguns momentos de
descanso regular. Quando a pessoa não faz isso, ao longo de anos e anos, mais
tarde acaba por ser forçado a passar muito tempo para corrigir situações
(saúde, relacionamentos, trabalho, etc.) provocadas por essa falta de descanso.
E normalmente esses são tempos de grande sofrimento.
Acredita! O primeiro passo
para ir tendo as "baterias carregadas" é começar a fazer um bom
planeamento e gestão pessoal.