Será
que o bullying - pressão constante e intencional de uma
pessoa sobre outra(s) - é uma realidade nas empresas? De que
forma é que essa pressão afecta o desempenho das pessoas?
Bullying
é um conceito normalmente ligado a crianças ou jovens vítimas de agressão
constante por parte dos seus pares. E o facto de algumas destas situações terem
levado ao suicídio, tornou-as ainda mais mediáticas.
No
entanto, um bully é um agressor, uma pessoa que agride outros de forma
sistemática e intencional, qualquer que seja o ambiente. A violência doméstica,
por exemplo, não é mais do que uma forma de bullying. Esta pressão ou agressão
pode manifestar-se das formas mais diversas. Pode ir desde a agressão física
até formas tão subtis que só são percebidas pela própria vítima. Neste caso, é
fácil pensarmos que a vítima está a imaginar coisas ou a ser hipersensível. É
precisamente este o jogo do bully
- oprimir a sua vítima ao máximo,
sem lhe dar descanso, sem ser detectado pelos outros e, se possível,
conseguindo que seja a vítima a ficar mal vista com a situação.
No
local de trabalho, o bully tanto pode estar num cargo acima da sua vítima, como
ser um colega ao mesmo nível, ou mesmo estar num cargo inferior. Normalmente é
uma pessoa inteligente e fria, embora possa aparentar uma grande sensibilidade.
Frequentemente é alguém bastante educado e até charmoso. Os bullies podem
actuar em grupo ou individualmente.
Este
tipo de agressão pode manifestar-se de muitas formas: pedir trabalhos em prazos
impossíveis, pedir tarefas triviais a pessoas que têm cargos de responsabilidade,
não compartilhar informações necessárias, remarcar reuniões em que a sua vítima
tem um papel fundamental, sem a avisar, pedir trabalhos urgentes em cima da
hora de saída, fazer críticas constantes, ridicularizar, ameaçar, etc.
O
bullying é considerado uma das situações mais traumáticas. Pode arrastar-se ao
longo de anos. É caracterizado por humilhação, intimidação e mesmo chantagem. É
comum a vítima sentir-se completamente à mercê do seu agressor e acreditar que
não é possível fazer nada para mudar a sua situação.
A
pressão e os maus tratos são constantes e sempre dirigidos contra a mesma
pessoa, fazendo com que esta viva num permanente estado de terror e angústia,
para além de uma solidão profunda, pois não se atreve a compartilhar isso com
ninguém. Em algumas empresas, este fenómeno tem mesmo levado ao suicídio.
Mais
recentemente tem-se desenvolvido a noção de cyberbullying, em que este conjunto
de comportamentos agressivos contra uma mesma pessoa é realizado via internet
(redes sociais, mensagens instantâneas) ou telemóvel (mensagens de texto). Em
alguns casos as vítimas são difamadas de tal maneira através das redes sociais
ou de sites / blogs criados para o efeito, que se torna muito difícil saírem
ilesas.
Por
chocante que pareça, em muitas empresas as chefias estão conscientes da
situação (dentro da sua própria empresa) mas não fazem nada. Alguns chegam
mesmo a achar que isto é um mal necessário ou que é útil para tornar os funcionários
mais fortes e resistentes.
O
que fazer?
Eu
creio que qualquer situação de agressão é totalmente inadmissível e destrói
qualquer dignidade que uma pessoa possa ter como ser humano. Ficar calado nunca
deveria ser opção.
Hoje,
felizmente, a violência doméstica já é crime público. Isto significa que
qualquer pessoa que tenha conhecimento de uma situação de agressão tem o dever
de fazer alguma coisa.
Perante
o bullying, há o mesmo dever. Ficar calado é pactuar e, na prática, ajudar o
agressor a continuar a agredir. A agressão funciona como qualquer outro vício.
O agressor tem a capacidade de mudar, mas não o quer fazer (é um risco
demasiado grande - perder o controlo, o poder, tornar-se
vulnerável). Ele está confortável, assim mesmo.
O
meu desafio às vítimas - não continuem a calar! É possível
procurar ajuda mesmo de forma confidencial ou anónima, se não quiser / poder
dar a cara.
O
meu desafio... ao agressor - atreva-se a dar um passo de verdadeira
coragem (agredir não é coragem, antes pelo contrário) e comece hoje a planear e
implementar passos concretos para mudar, ou procure ajuda para o fazer.
Deixar
de ser vítima é uma libertação!
Deixar
de ser agressor também o é!