Será preciso correr riscos?
É
comum pensar-se que, nas psicoterapias, é normal a pessoa começar por piorar
antes de haver alguma melhoria. É quase como agitar as águas. Enquanto estão
quietas, tudo parece pacífico mas, se as agitamos, podemos descobrir coisas
terríveis lá no fundo.
Em
termos mentais e emocionais o risco pode parecer demasiado elevado. Enquanto
não reconheces que estás a lutar com algum problema, é como se o mantivesses
relativamente debaixo de controlo. No entanto, se aceitas olhar para ele e
analisá-lo, podes estar a abrir uma caixa de Pandora e acabares por ser
esmagado por problemas que não sabias que tinhas (ou talvez nem tivesses
mesmo).
Não
querer lidar com essas situações é uma atitude de auto-proteção que em nada ajuda
a resolver o problema, mas os riscos que se correm ao "mexer na
mente" são reais.
Quais são os riscos?
É
frequente as pessoas procurarem a minha ajuda para resolverem algo que não é,
de todo, o seu maior problema; ou, pelo menos, sem terem a total consciência da
gravidade da sua situação. Nesses casos, qual deveria ser a minha abordagem?
Ajudá-los a analisar, identificar, compreender o problema em profundidade para
depois o começarmos a resolver? Parece uma abordagem que faz sentido, mas tem
riscos demasiado elevados para além de resultados duvidosos.
E
quais são esses riscos?
Numa
situação emocional grave, como depressão, por exemplo, analisar o problema não
vai trazer qualquer alívio à pessoa. Pelo contrário, vai intensificar os
pensamentos e emoções negativas fazendo com que, naturalmente, o problema se
agrave. Aí, o risco é a pessoa entrar numa depressão mais profunda ou mesmo
começar a ter pensamentos ou atitudes suicidas.
Ou
podemos pensar numa situação de conflito grave. Se vamos analisar o conflito,
sem antes desenvolvermos e treinarmos nos intervenientes novos skills de
comunicação (mais éticos, positivos, respeitadores, etc.) e estratégias mais
eficazes para lidar com a ira, arriscamo-nos a que surjam novos dados /
informações, que vão tornar a situação muito mais grave, com pessoas que ainda
não desenvolveram a capacidade para lidarem com isso. Muitos processos de
"gestão de conflitos" acabam por levar a um agravamento do conflito
ou mesmo a uma ruptura porque não têm em conta essa necessidade de tornar as
pessoas mais "capazes" antes de as colocar perante uma situação com
que ainda não conseguem lidar. Em alguns casos, isto é quase o equivalente a
encorajar alguém a correr uma maratona sem antes ter feito qualquer preparação
para isso.
Qual a importância do alívio rápido?
Quando
uma pessoa chega até mim completamente esmagada pelas suas emoções e incapaz de
lidar com elas, por exemplo numa situação de angústia, ataques de pânico ou
fobias, a necessidade mais imediata que ela tem é de alívio. Ao conseguirmos
reduzir a pressão e o poder dessas emoções negativas, a pessoa começa a ficar
mais forte e, acima de tudo, verifica e passa a acreditar que é possível
ultrapassar aquele problema. Trabalhar com uma pessoa neste estado de espírito
traz resultados muito mais rápidos e seguros do que com uma pessoa que levámos
a "bater no fundo" — para além de que os riscos, em vez de aumentarem,
vão sendo progressiva e conscientemente trabalhados e reduzidos.
Este
é o 1º de uma série de artigos acerca da importância de se usar uma abordagem
de terapia de não leve a riscos desnecessários e muitas vezes fatais.
Fica
atento aos próximos artigos!
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