04 dezembro 2010

A depressão e o Natal


O Natal é talvez uma das épocas em que há maior tendência para a depressão. É suposto ser uma época festiva e de união entre as pessoas, e isso torna ainda mais dolorosas as feridas profundas que há em nós e nos nossos relacionamentos. Tudo parece alegre, exuberante, leve e tão fácil! Todas as famílias parecem (quase) perfeitas. Esse espírito tão ligeiro e superficial cria nas pessoas uma profunda falta de esperança. Muitas pessoas vivem essas semanas de "faz de conta" com a certeza de que as suas famílias nunca serão assim. O riso e a alegria alterna com momentos por vezes bem negros. E depois de terminadas todas as festividades, fica o vazio.


A depressão funciona como uma espiral descendente, em que tudo fica cada vez mais fundo e mais escuro. É fundamental quebrar os elos dessa espiral, travar a descida e inverter esse percurso.

No entanto, não é com pensamento positivo que a depressão vai embora. A frase "Vai ficar tudo bem", é não só mentirosa como cruel. É manter o sofrimento do outro num nível de pouca importância, dizendo uma mentira de esperança.

Há vários factores na depressão. O mais forte será, sem dúvida, as emoções. Mas nós não podemos mudar as nossas emoções; não podemos mudar o nosso sentir. Apenas podemos recalcá-lo ou negá-lo. Mesmo recalcadas, as emoções continuam lá, e acabam por se manifestar mais tarde, por vezes sob a forma de problemas físicos (as chamadas doenças psicossomáticas).

Outros factores da depressão que têm um papel crucial são a forma de pensar e de agir. Mas, ao contrário das emoções, estes são mudáveis. Nestes nós podemos trabalhar, passo a passo, criando uma nova forma de lidar com o problema e, pouco a pouco, influenciando e curando ao nível das feridas emocionais.

Ultrapassar a depressão, tem muito a ver com algumas formas de mudança no teu agir e no teu pensar. Tem a ver com quebrares elos da espiral descendente e inverteres o percurso. Tem a ver com aprenderes a influenciar a forma como as coisas acontecem, em vez de simplesmente permitires que elas aconteçam e que as suas consequências te esmaguem.

É possível iniciares um percurso diferente. E o dia certo para começares é sempre hoje - o ontem já passou e não adianta viveres eternamente à espera de um amanhã.



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21 novembro 2010

Resolução de Conflitos nas Empresas


A empresa recebeu uma grande encomenda de outra importante empresa cliente. Esse trabalho foi entregue à mesma equipa que no ano anterior já tinham trabalhado para eles num projecto semelhante. O prazo de entrega do trabalho não dava muito espaço para erros ou acidentes.
Neste projecto, cada um dos membros da equipa tinha um papel específico. Um deles, que no projecto anterior tinha sido causador de atritos que tinham prejudicado seriamente a entrega do trabalho, voltou a provocar uma situação que fez com que tivessem que perder mais de duas semanas para a resolver  -  num projecto com custos astronómicos ao dia.

Basta haver duas pessoas juntas, para que a probabilidade de conflitos seja grande. E numa empresa, em que trabalham muitas pessoas juntas, normalmente ao longo de anos, a probabilidade de conflito é ainda maior.
O conflito é natural; é algo que faz parte do ser humano e não tem que ser necessariamente negativo. No entanto, não deveria nunca ser ignorado ou abafado. Não é possível enfiar no armário uma situação de conflito. Se ela existe, vai voltar a manifestar-se, com consequências cada vez mais graves.

Uma das formas mais comuns de reacção ao conflito é escapar  -  a pessoa procura escapar ao conflito em vez de o resolver. Pode fingir que o conflito não existe, tenta encobrir, começa a evitar a outra pessoa, etc. Normalmente essa atitude prolonga e cristaliza o conflito, resultando em ressentimento. Estas situações podem manter-se ao longo de anos e a pessoa ofendida viver mental e emocionalmente escravizada por essa situação.
Outra forma de reacção é atacar, usada para pressionar os outros de forma a conseguir o que quer. Pode ser deitar abaixo, dizer mal do outro, ou assumir formas mais directas como intimidação, chantagem, etc.
A situação de conflito não resolvido ou de ressentimento pode ser causa de muitas doenças psicossomáticas e é uma das maiores fontes de stress. Há várias formas de lidar com estes problemas emocionais. As mais usadas são ignorar o problema ou recorrer a medicação. Outra opção é aprender a lidar com as situações de uma forma mais eficaz.  O curso "Reduzir o Stress", em e-learning,  foi planeado para que as pessoas possam, na sua privacidade, aprender e implementar formas mais eficazes de lidar com as suas próprias fontes de stress  -  conflitos e outras. Pode ver mais informações em www.insideout-change.blogspot.com

Numa empresa, um conflito não resolvido, acaba por afectar também as outras pessoas que estão à volta e provocar mau ambiente e mesmo prejuízo. Um líder de uma equipa não deve, de forma alguma, permitir que permaneça um ambiente de conflito entre os seus colaboradores.

O que fazer?
Falar abertamente
A resolução de um conflito passa sempre por um maior auto-conhecimento, por parte das várias pessoas envolvidas. É fácil assumirmos a atitude de que a culpa é toda do outro. Por isso, é preciso analisar a situação de forma objectiva. A comunicação precisa de ser clara e não ameaçadora para nenhuma das partes. Deve ter-se o cuidado de distinguir os factos das emoções, e da interpretações desses factos.

Procurar a reconciliação
O alvo é sempre a reconciliação. Isto não significa que essas pessoas tenham que passar a gostar uma da outra ou passem a trabalhar sempre juntas. Há temperamentos que naturalmente têm mais dificuldade em funcionar juntos e faz parte do trabalho do líder perceber de que forma as várias pessoas da sua equipa podem funcionar melhor em conjunto.

Analisar e planear a mudança
Para se poder resolver o conflito, é preciso falar do que aconteceu, das consequências e decidir como se vai lidar com essa situação, o que se vai fazer de diferente a partir daí.

Encerrar o assunto...
O conflito deve ficar resolvido. Ou seja, deve ser falado, planeado e mudado o que for necessário e depois o assunto fica aí. Não deve servir, de forma alguma, para continuar a "atirar à cara" daquele(s) que agiu errado. Um assunto que foi resolvido e encerrado não deve continuar a ser mexido, como forma de chantagem, pressão ou embaraço do outro.

... mas implementar mudança
Por outro lado, não se pode deixar de lado a questão da mudança. As pessoas envolvidas no conflito, precisam de passar a agir e a lidar com as situações de forma diferente. Ou seja, o não voltar a usar o que alguém fez de errado contra ele, não significa que se permita que esse tipo de atitudes continue.

Um aspecto muito importante, em relação a conflitos ou outro tipo de dificuldades, é a prevenção. Quanto mais capacitadas as pessoas estiverem em termos de relações interpessoais, trabalho em equipa, comunicação eficaz, entre outros, menor a probabilidade de que surjam conflitos não resolvidos. O líder deve empenhar-se em estimular e ajudar a sua equipa a desenvolver as capacidades necessárias para funcionarem bem em conjunto, e proporcionar os meios necessários para isso.

Quando a equipa funciona bem, o trabalho pode tornar-se um prazer (não um vício!), em vez de ser como remar em águas turbulentas, ou mesmo contra a maré!
in www.meiobyte.com, Nov 2010

22 outubro 2010

Como Alterar Padrões de Pensamento Negativos


"O que são padrões de pensamento negativos?", poderíamos pensar. Afinal, não somos livres de pensar o que queremos? Ou as filosofias do "tens que fazer" e do "não podes fazer" também já querem controlar a forma como usamos o nosso pensamento?

O nosso pensamento é talvez aquilo em que somos mais livres. Os outros não têm como nos "proibir" de pensar seja no que for. Mas aquilo em que passamos tempo a pensar, tem alguns efeitos em nós. Então acho que faz sentido nós escolhermos com cuidado o que queremos que ocupe o nosso pensamento.

Os nossos padrões de pensamento são bastante inconscientes. E podemos facilmente verificar isso em nós próprios. Se tentar perceber, por exemplo, em que esteve a pensar ontem durante TODO o dia, provavelmente não conseguirá lembrar-se de mais do que uns poucos tópicos. No entanto, o seu pensamento esteve a ser usado durante todo o dia, sem interrupção.

Quando algo começa a ter um grande "tempo de antena" no mundo dos nossos pensamentos, começa a dirigir também as nossas acções. Isto tanto pode acontecer em situações simples e sem grande importância, como em aspectos que acabem por levar a problemas considerados distúrbios mentais, como em alguns casos de paranóia, por exemplo.

Um padrão de pensamento negativo pode levar-nos, a viver desconfiados, a andar preocupados, a desenvolver baixa auto-confiança ou auto-imagem, a ressentimento ou conflitos, depressão, ataques de pânico e mesmo a alguns problemas psicossomáticos como enxaquecas, problemas digestivos, etc.

O padrão de pensamento, para além de ser inconsciente, também é geralmente não intencional. Tenho encontrado pessoas que se sentem completamente escravizadas pela sua forma de pensar; que querem deixar de pensar "naquilo" mas não conseguem. Muitos vão tentando usar estratégias para se livrarem de pensamentos que os atormentam, mas sem grande resultado. Porquê? A intenção está lá. A motivação (considerada tão importante) por vezes é fortíssima. Então porque não conseguem mudar o seu padrão de pensamento?

Não podemos esquecer que o nosso cérebro está em constante actividade e o nosso pensamento também. Para além disso, quanto mais pensamos numa coisa, mais forte ela fica no nosso pensamento. Ou seja, se estamos a tentar deixar de pensar em algo, na prática o que estamos a fazer é a reforçar esse tema, a torná-lo mais importante no nosso pensamento.

O primeiro passo para mudarmos padrões de pensamento negativos é identificarmos os nossos. É importante apercebermo-nos do tipo de pensamentos e temas que andam pela nossa mente. Vale a pena gastar alguns dias a analisar os nossos próprios padrões de pensamento. Tentar perceber, várias vezes ao dia, em que estava a pensar nesse momento. E dividir esses pensamentos em categorias: preocupação, pensar mal de alguém, achar que não é capaz de alguma coisa, fantasias, etc. A escrita é uma ferramenta muito útil que vale a pena usar quando estamos a tentar mudar algo.

O segundo passo é mudar. Como conseguir isso? Se tentamos tirar algo do nosso pensamento ele fica "vazio" e a tendência é voltar a "encher", normalmente com o que acabou de sair. Então a estratégia não pode ser "tirar" mas sim "colocar". Ou seja, em vez de tentarmos deixar de pensar numa coisa, é muito mais eficaz colocarmos outra coisa no nosso pensamento.

Podemos fazer uma lista com algumas coisas que podemos pensar ou fazer quando apanhamos o nosso pensamento em flagrante, a andar por onde não deve. Estas coisas devem ser agradáveis e suficientemente fortes para substituírem o pensamento negativo. No princípio é natural o pensamento que não queremos, voltar logo a seguir. Então voltamos a colocar outra coisa na mente. Tenho verificado que quando são formas de pensar muito persistentes, ajuda usarmos a nossa voz, por exemplo cantando ou planeando coisas em voz alta.

Enquanto está a fazer isso precisa também de desenvolver a sua capacidade de análise. De perceber o que está a resultar e o que precisa de alterar.

Na prática isto não é fácil e requer trabalho e persistência. Mas acho que o resultado compensa.
in, www.meiobyte.net 

17 outubro 2010

Fazer a Diferença


Será que, numa época em que o marketing vive da alta tecnologia e de campanhas cuidadosamente planeadas, ainda há espaço para o "toque pessoal"?

Em frente da minha casa há um café que nós conhecemos há mais de 20 anos. É um típico café de bairro onde toda a gente se conhece. Há 2 ou 3 anos o meu filho, que estava no início da sua adolescência, sentou-se na esplanada com uma colega de turma que também vive ali ao lado. Quando o dono do café, que os conhece perfeitamente, lhes perguntou o que queriam (já com um certo mau modo), eles pediram um copo de água por favor, tentando ser educados. Ao que o dono respondeu: "Estão a gozar comigo ou quê? Vão já embora daqui."
Aqueles dois miúdos estavam a aproximar-se da idade de se tornarem clientes regulares de um dos cafés da vizinhança  -  que não aquele, certamente!

Há pouco mais de dois meses abriu ali ao lado um outro café, com nova gerência. A primeira coisa que nos leva a entrar lá é o ambiente com uma decoração bastante diferente do habitual e de excelente bom gosto. E o que é que nos leva a voltar?
Esta semana sentei-me lá um pouco ao fim da tarde e fiquei a observar. Tanto os patrões como os empregados fazem questão de se dirigir a cada cliente com um sorriso; sabem o nome dos clientes habituais (num negócio que tem dois meses!); vi um dos patrões  sentar-se por uns momentos a conversar com uns clientes e o outro a fazer uma "corrida" com uma garotinha de uns dois anos.
Dentro da equipa permitem e estimulam um à vontade e mesmo sentido de humor que torna o trabalho bem mais leve. (Se desejar pode ver algumas histórias no "Diário de uma empregada" em spaziodicaffe.blogspot.com)

Duas atitudes radicalmente diferentes. O segundo exemplo, para além de trabalhar muito o relacionamento com os  clientes actuais, já o está a trabalhar também com os da próxima geração.
Resultado: o segundo café já está sempre mais ou menos cheio, enquanto que o primeiro... está relativamente cheio no dia de folga do segundo.

Isto mostra claramente como nós, com a nossa atitude, podemos influenciar e mesmo mudar algumas das nossas circunstâncias. Hoje investe-se muito em tecnologia e marketing. No entanto, negligenciam-se aspectos básicos, como o relacionamento interpessoal.
Há uma quantidade incrível de ofertas, de produtos, serviços, em todos os níveis e áreas que se possa imaginar. A maneira de sobreviver em tal mercado de trabalho, é pela diferença naquilo que se oferece.

Nesta época de recessão e muito desemprego, tenho verificado um fenómeno interessante. Estão a surgir pequenas empresas, que muitas vezes não são mais do que negócios familiares e que, em pouco tempo, conseguem não só sustentar-se como começar a ter alguma relevância no mercado. Podemos pensar que isso se deve à qualidade do seu produto. Mas é preciso muito mais do que qualidade para que um negócio tenha sucesso.

Nestas últimas décadas a nossa sociedade tem vivido focada no individualismo, na privacidade / anonimato; no "não bairrismo". Isto tem as suas vantagens.
Mas já começa a surgir uma outra visão, que tem em conta a relevância de relacionamentos de qualidade (diferente de relacionamentos intrusivos). A nível profissional isto não passa só pelo bom atendimento, com educação e cordialidade (não perdemos a nossa privacidade só porque alguém nos sorri e diz "bom dia"!). Passa também por outros aspectos básicos na relação entre aquele que oferece algo e o possível cliente: a comunicação eficaz (muitas dificuldades surgem por causa de ignorância acerca de regras básicas da boa comunicação); a disponibilidade e maleabilidade para um atendimento minimamente personalizado; o cumprimento do que foi falado, entre outros.

Embora a formação nas áreas técnicas seja indispensável, um bom investimento na área comportamental pode muitas vezes fazer toda a diferença. As características que marcam a diferença nas empresas que progridem incluem aspectos comportamentais, que vão desde o desempenho da liderança ou o bom funcionamento da equipa, até à forma como se chega ao cliente.
in, vendamelhor.blogspot.com

19 setembro 2010

Bullying nas Empresas

Será que o bullying  -  pressão constante e intencional de uma pessoa sobre outra(s)  -  é uma realidade nas empresas? De que forma é que essa pressão afecta o desempenho das pessoas?


Bullying é um conceito normalmente ligado a crianças ou jovens vítimas de agressão constante por parte dos seus pares. E o facto de algumas destas situações terem levado ao suicídio, tornou-as ainda mais mediáticas.
No entanto, um bully é um agressor, uma pessoa que agride outros de forma sistemática e intencional, qualquer que seja o ambiente. A violência doméstica, por exemplo, não é mais do que uma forma de bullying. Esta pressão ou agressão pode manifestar-se das formas mais diversas. Pode ir desde a agressão física até formas tão subtis que só são percebidas pela própria vítima. Neste caso, é fácil pensarmos que a vítima está a imaginar coisas ou a ser hipersensível. É precisamente este o jogo do bully  -  oprimir a sua vítima ao máximo, sem lhe dar descanso, sem ser detectado pelos outros e, se possível, conseguindo que seja a vítima a ficar mal vista com a situação.

No local de trabalho, o bully tanto pode estar num cargo acima da sua vítima, como ser um colega ao mesmo nível, ou mesmo estar num cargo inferior. Normalmente é uma pessoa inteligente e fria, embora possa aparentar uma grande sensibilidade. Frequentemente é alguém bastante educado e até charmoso. Os bullies podem actuar em grupo ou individualmente.
Este tipo de agressão pode manifestar-se de muitas formas: pedir trabalhos em prazos impossíveis, pedir tarefas triviais a pessoas que têm cargos de responsabilidade, não compartilhar informações necessárias, remarcar reuniões em que a sua vítima tem um papel fundamental, sem a avisar, pedir trabalhos urgentes em cima da hora de saída, fazer críticas constantes, ridicularizar, ameaçar, etc.

O bullying é considerado uma das situações mais traumáticas. Pode arrastar-se ao longo de anos. É caracterizado por humilhação, intimidação e mesmo chantagem. É comum a vítima sentir-se completamente à mercê do seu agressor e acreditar que não é possível fazer nada para mudar a sua situação.
A pressão e os maus tratos são constantes e sempre dirigidos contra a mesma pessoa, fazendo com que esta viva num permanente estado de terror e angústia, para além de uma solidão profunda, pois não se atreve a compartilhar isso com ninguém. Em algumas empresas, este fenómeno tem mesmo levado ao suicídio.

Mais recentemente tem-se desenvolvido a noção de cyberbullying, em que este conjunto de comportamentos agressivos contra uma mesma pessoa é realizado via internet (redes sociais, mensagens instantâneas) ou telemóvel (mensagens de texto). Em alguns casos as vítimas são difamadas de tal maneira através das redes sociais ou de sites / blogs criados para o efeito, que se torna muito difícil saírem ilesas.

Por chocante que pareça, em muitas empresas as chefias estão conscientes da situação (dentro da sua própria empresa) mas não fazem nada. Alguns chegam mesmo a achar que isto é um mal necessário ou que é útil para tornar os funcionários mais fortes e resistentes.

O que fazer?
Eu creio que qualquer situação de agressão é totalmente inadmissível e destrói qualquer dignidade que uma pessoa possa ter como ser humano. Ficar calado nunca deveria ser opção.
Hoje, felizmente, a violência doméstica já é crime público. Isto significa que qualquer pessoa que tenha conhecimento de uma situação de agressão tem o dever de fazer alguma coisa.
Perante o bullying, há o mesmo dever. Ficar calado é pactuar e, na prática, ajudar o agressor a continuar a agredir. A agressão funciona como qualquer outro vício. O agressor tem a capacidade de mudar, mas não o quer fazer (é um risco demasiado grande  -  perder o controlo, o poder, tornar-se vulnerável). Ele está confortável, assim mesmo.

O meu desafio às vítimas  -  não continuem a calar! É possível procurar ajuda mesmo de forma confidencial ou anónima, se não quiser / poder dar a cara.

O meu desafio... ao agressor  -  atreva-se a dar um passo de verdadeira coragem (agredir não é coragem, antes pelo contrário) e comece hoje a planear e implementar passos concretos para mudar, ou procure ajuda para o fazer.

Deixar de ser vítima é uma libertação!
Deixar de ser agressor também o é!

11 agosto 2010

A importância de recarregar baterias


Para mim, quando eu era muito mais jovem do que agora, o estado normal das coisas era estar a trabalhar. Mesmo em férias, fins de semana ou outros tempos supostamente de descanso, eu arranjava coisas para fazer.

Hoje em dia, a maioria das pessoas vive completamente esmagada pela pressão de "produzir". Somos condicionados a acreditar que, para que o tempo seja proveitoso, devemos ter algo, algum resultado do nosso trabalho, para mostrar.
Ninguém pensaria ter um aparelho a funcionar indefinidamente com a mesma carga na bateria. Regularmente é preciso ligar a bateria à corrente e permitir, pacientemente, que ela carregue. Para nós, isso é óbvio em relação a um aparelho, mas muitas vezes nem nos passa pela cabeça que o nosso corpo precise do mesmo tipo de cuidado.

Eu creio que a eficácia daquilo que fazemos é muito importante, tanto a nível pessoal como profissional.
A nível pessoal, podemos verificar como é fácil as coisas começarem a complicar-se. Normalmente pensamos mais nas intenções que temos do que nas estratégias para as alcançarmos. Uma intenção, ou mesmo um alvo, podem ser perfeitos. Mas, se não houver um planeamento cuidadoso e um desenvolvimento das capacidades necessárias para o alcançar, é pouco provável que obtenhamos o resultado que desejávamos.
A nível profissional, também se verifica que, muitas vezes, o foco está naquilo que se quer e não na eficácia dos meios para o alcançar.

Há alguns anos tive um jovem formando que se estava a preparar para participar nas próximas olimpíadas. Ele foi comentando comigo os cuidados e restrições que tinha, para conseguir não só suportar o treino extremamente intensivo mas também alcançar resultados que lhe permitissem ficar entre os classificados.

Para nós isto parece normal num atleta de alta competição mas... porque é que tu não és também um atleta? Não me refiro a entrar em competições desportivas, mas em desenvolveres e usares o teu potencial ao máximo. E para isso, tal como para um atleta, uma das coisas fundamentais é "recarregar as baterias".
É fácil nós trabalharmos no "automático" mas a qualidade do nosso trabalho e dos nossos relacionamentos sofre fortemente com isso. Por vezes pensamos que é lucro continuarmos a esforçar-nos sem parar. Muitas vezes tenho ouvido o comentário "Não me posso dar ao luxo de descansar". Mas o não descansar tem um custo, por vezes muito alto. Uma das componentes, em muitos dos relacionamentos quebrados com que tenho trabalhado, foi a falta de tempo para cuidar do relacionamento. Muitos dos acidentes de trabalho ou decisões pouco sábias, têm a ver com falta de tempo para descanso.
A ideia de que mais tempo a trabalhar significa maior produtividade não passa de um mito absurdo.


Para conseguirmos funcionar com qualidade, é fundamental planearmos tempos de descanso. Em tempo de férias, é importante mudarmos de ares e de ambiente nem que seja só por alguns dias. Mas também é preciso o descanso "contínuo" ao longo do ano. Pode não ser fácil, mas é um bom investimento planear alguns momentos de descanso regular. Quando a pessoa não faz isso, ao longo de anos e anos, mais tarde acaba por ser forçado a passar muito tempo para corrigir situações (saúde, relacionamentos, trabalho, etc.) provocadas por essa falta de descanso. E normalmente esses são tempos de grande sofrimento.

Acredita! O primeiro passo para ir tendo as "baterias carregadas" é começar a fazer um bom planeamento e gestão pessoal.


12 abril 2010

Conflito de Gerações

O que é que eu faço com estes meus filhos?

Vai-se tornando bastante comum ouvir este tipo de pergunta feita por pais. No entanto, este não é um tema novo. Sempre foi difícil atravessar as mudanças da adolescência lado a lado com os cuidados e restrições das gerações mais idosas.

No âmbito do aconselhamento, não interessa ver quem é que mais precisa de mudar. O que realmente importa, é ver quem está disposto a fazê-lo. Quando há grandes dificuldades num relacionamento, é com aqueles que estão dispostos a aprender e tentar um modo diferente de lidar com os problemas, que podemos trabalhar.

Uma armadilha em que os pais podem cair é desistir; achar que já não vale a pena; que aquele filho é de tal maneira rebelde que não há nada a fazer. Isto tem a ver não só com as próprias atitudes do filho mas também, e até de maneira mais forte, com o cansaço e sensação de impotência dos pais. Alguns já tentaram muitas coisas, que vulgarmente envolvem súplicas, choro, suborno, chantagem ou ameaças. E é fácil encontrarem-se numa situação em que não sabem por onde, nem como, começar algo de diferente. Mas, por favor, nunca desistam das vossas crianças ou dos vossos jovens, seja qual for a situação! Aqui, é importante esclarecer que não desistir de o ajudar, não significa fazer-lhe todas as vontades. Na realidade, fazer ou permitir tudo o que ele quer não é ajuda; muitas vezes isso é parte do problema.

Perante dificuldades de relacionamento, o primeiro passo é procurar perceber o que se passa. Todas as pessoas, mesmo as crianças, têm temperamentos diferentes e podem reagir de formas muito diferentes perante as mesmas situações. Devemos procurar entender não só a forma como ele está a agir, mas também a motivação que o está a levar a isso; qual é a causa para essa atitude. Para isso, é muito importante desenvolver algumas capacidades de comunicação. É preciso ajudá-lo a expressar-se, colocando-o à vontade, facilitando a comunicação. Os pais precisam de aprender a gerir as suas reacções e emoções. Uma reacção demasiado rápida de desacordo ou de choque, só irá fazer com que esse filho fique à defesa e a comunicação seja interrompida. É tão importante que a vossa criança e ainda mais o vosso adolescente fale convosco! Se eles o fizerem, pensem que isso é algo a preservar. É crucial manterem uma “porta aberta” na comunicação com os vossos filhos. Só assim poderão entender o comportamento e as palavras deles. Só assim poderão ter acesso a eles e ajudá-los. É claro que eles precisam de mudar muitas coisas, mas… nós também.

Por vezes a dificuldade tem a ver simplesmente com um problema de comunicação. Nós transmitimos aos nossos filhos alvos que lhes parecem estar a anos-luz de distância. Se apontamos para um alvo perfeito, longínquo, isso vai parecer inalcançável e é extremamente desencorajador. A atitude mais lógica, da parte deles, é nem sequer tentar. Afinal, não vale muito a pena ele estar a esforçar-se por algo que nunca irá conseguir mudar!

Devemos criar o hábito de dividir o que é preciso fazer em etapas e de estabelecer metas a curto prazo; ver aquilo que eles têm capacidade para começar a mudar e trabalhar nesse sentido. Repare, o foco não deve ser mudar, mas sim começar a mudar. É muito diferente. Não é um acto, mas um percurso. E nesse percurso, tem um papel fundamental o feedback positivo: dizer-lhe o que é que ele já está a mudar ou a fazer bem e apoiá-lo nisso; depois dizer-lhe aquilo (uma coisa de cada vez!) em que ele precisa de continuar a trabalhar. Ele precisa de perceber que isso é um processo. É difícil mudar e ele não o vai conseguir fazer num dia. E mesmo o processo de mudança tem altos e baixos. Ele vai progredindo e por vezes parece regredir. Perceber que esse é o processo natural irá ajudá-lo (e também a vocês) a não desencorajar.

No aconselhamento nós lidamos não só com o comportamento mas principalmente com o “coração”, com o que o está a motivar. A mudança, para ser duradoura, tem que ser feita de dentro para fora.

Normalmente trabalhamos com as situações em que os pais já não sabem o que mais podem fazer, frequentemente em problemas mais complexos como conflitos, violência doméstica, anorexia, depressão, bullying ou insucesso escolar.

Seja qual for a situação em que uma família está, os pais podem sempre investir em melhorar o relacionamento. É preciso criar o hábito de dialogar - isto inclui também a capacidade de os ouvir. Precisamos de ter muito cuidado para não minimizarmos ou ridicularizarmos coisas que são importantes para eles. Um filho é uma pessoa; não é “algo” que nos pertence. Eles são diferentes de nós; pensam e sentem de forma diferente de nós. Isto também nos deve ajudar a perceber que, aquilo que é óbvio para nós, não o é necessariamente para eles. Por isso, é bom criar o hábito de lhes dizer que os ama, de lhes dizer - a eles próprios e não apenas aos seus colegas de trabalho - aquilo que admira neles. Muitas das queixas dos adolescentes é que os pais não os ouvem, não os conhecem, não estão interessados nos assuntos deles. Se você acha que está interessado no que se passa com o seu filho, no que ele pensa e sente, diga-lhe isso. Perdemos muitas oportunidades simplesmente por causa do nosso hábito de “assumirmos que…” Não assuma! Diga-lhe as coisas que são importantes, mesmo que elas lhe pareçam óbvias. E tente ser concreto e específico naquilo que diz. Pode parecer difícil, mas com o “treino” vai-se tornando muito mais natural. Por vezes, é bom gastar primeiro um pouco de tempo consigo mesmo, a sós, a arrumar os seus pensamentos e acalmar as suas emoções, e planear o que precisa de ser dito ou feito, antes de falar com eles.

Mas no meio de tudo isto, precisamos de lembrar que um jovem tem a capacidade de fazer opções. Ou seja, uma educação cuidadosa e um bom ambiente na família, não implica necessariamente que os filhos venham a tornar-se jovens e adultos equilibrados. Eles podem escolher um caminho diferente. Eles têm a liberdade de fazer o que é certo ou o que é errado; de se tornarem “ajudadores” ou agressores. Para muitos pais isto pode parecer assustador. Mas eu penso que, pelo contrário, isto é um motivo de esperança. Por vezes dizem-me: “Ele é mesmo assim! Sempre foi. Não consegue controlar-se.” Mas ninguém é “mesmo assim”. A pessoa está simplesmente a optar por agir dessa maneira, porque não quer ou não sabe lidar com as situações de outra forma. Embora esta opção seja normalmente inconsciente, não deixa de ser uma escolha. Ninguém nasce “destinado” a fazer o que é errado. Assim, é possível a pessoa - qualquer pessoa - aprender a reagir de outra maneira. Na verdade, nós somos seres de hábitos; mas também temos a capacidade de mudar os hábitos que temos e começar um novo rumo.

No aconselhamento, a nossa função é ajudarmos cada pessoa a identificar os seus problemas, a perceber a raiz deles e a agir de forma a modificá-los. E com o tempo levá-los a fazerem isso por si próprios, a tornarem-se independentes de nós; a tornarem-se pessoas que conseguem optar conscientemente, por decisão sua e não por serem levados a isso por quaisquer filosofias ou correntes de pensamento.

27 fevereiro 2010



Este é o convite para o lançamento do meu livro.
Apareçam e convidem amigos.

A partir do dia do lançamento, o livro estará disponível na Fnac, Bulhosa e outras livrarias.
Pode também ser encomendado directamente a mim pelo email  menawagner@hotmail.com

Obrigada
Mena

16 fevereiro 2010

Insucesso escolar

Há alguns anos pensava-se que o insucesso escolar ocorria principalmente em crianças com baixo QI ou de baixo nível sócio-económico e portanto com poucas condições para estudar. Ultimamente tem-se verificado que este problema atinge todo o tipo de famílias, mesmo aquelas com um nível cultural bastante elevado e que não estavam habituadas a este tipo de dificuldades.

Apesar do problema que isto representa a nível nacional e das tentativas do governo para o resolver, ainda não há indícios de que esteja a inverter-se.
 A nível familiar muitas vezes a situação torna-se dramática. Pode começar a sentir-se, logo no primeiro ano de escolaridade, que aquele filho, acerca do qual havia tantas expectativas, não está a corresponder minimamente a elas. Frequentemente entra-se num processo de bola de neve, em que todos vão ficando cada vez mais stressados (incluindo a própria criança, claro!) e a possibilidade de ela vir a obter bons resultados vai ficando mais remota.
 Podemos também encontrar outros problemas associados a este, como anorexia, rebeldia, hiperactividade, dificuldade de concentração, pensamentos suicidas, etc.


Para a família isto normalmente causa grande sofrimento. O tempo de estudar ou de fazer os trabalhos da escola torna-se muito tenso para todos e essa tensão acaba por afectar outras áreas da vida familiar. As pessoas, principalmente os pais, começam a sentir-se extremamente preocupados e não conseguem perceber como é que isto pode estar a acontecer-lhes. Podem pensar que a culpa é do filho - que não estuda, não se esforça, não toma atenção nas aulas, etc. - e muitos chegam mesmo a verbalizar isso. A sensação de insegurança em relação ao futuro desse filho é grande, mas talvez o mais difícil seja a impotência que os pais sentem para mudar alguma coisa ou para fazer com que o filho perceba essa necessidade e mude.


Mas para estas crianças a situação também não é fácil. Eles vão ouvindo que não têm tanta capacidade como as outras crianças e acabam por acreditar nisso. Passam a achar natural os constantes resultados negativos. Normalmente são crianças que não têm quaisquer perspectivas para o futuro. Quando já estão na adolescência, podem dizer que não vão ser sempre assim, que um dia vão mudar. Mas não têm qualquer noção de como essa mudança irá ocorrer, ou algum plano para a concretizar. Vulgarmente assumem uma atitude de desinteresse e despreocupação em relação às suas dificuldades, muitas vezes como forma de auto-protecção - se eles não tiverem quaisquer expectativas, não irão ficar desapontados por não as conseguirem realizar.


Uma das opções mais seguidas nas situações de insucesso é arranjar explicações ou algum tipo de apoio nos estudos, para essa criança. Acaba por se tornar um ciclo vicioso interminável, em que parece que ela irá precisar de apoio para sempre. Isto acontece porque se está a lidar apenas com o aspecto exterior do problema. É a mesma coisa que ficar durante anos a tomar analgésicos para uma dor cuja origem nunca é pesquisada.


Não basta explicar outra vez a matéria que ele já ouviu na escola, nem mesmo explicá-la de forma diferente. A criatividade no ensino é muito importante mas não é suficiente. Também não é possível arranjar uma solução igual para todas as crianças “problemáticas” e que funcione bem. É preciso analisar e perceber o que se está a passar e o que está a causar isso.


Só conhecendo aspectos como as motivações dessa criança / jovem, os seus sentimentos ou a dinâmica dos seus relacionamentos interpessoais, por exemplo, podemos lidar e resolver problemas como insucesso escolar, depressão, tendências suicidas, violência, etc. Não é possível resolver um problema lidando apenas com os seus sintomas. É necessário ir àquilo que o está a provocar e começar a mudança a partir daí.

Frequentemente a família já não sabe como lidar com vários aspectos do seu dia-a-dia e precisa de orientação e apoio práticos para quebrar essa espiral descendente de stress e falta de esperança.


Nem sempre se começa por trabalhar com a pessoa que aparentemente tem mais problemas. Por vezes começo por apoiar apenas a mãe ou o pai, se são eles que estão dispostos a isso. Através deles e à medida que vão percebendo o problema e como funciona, acaba por se conseguir melhorar o ambiente familiar e os seus “sintomas”, diminuindo assim a tensão que se tinha desenvolvido nos relacionamentos.


Para haver mudança profunda e duradoura é sempre preciso compreender a raiz do problema e a forma de levar à transformação interior. Nós somos seres de hábitos. Por um lado isto diz-nos que é difícil mudar velhos hábitos mas, por outro, também mostra que é possível aprendermos novos hábitos, novas formas mais eficazes de lidar com os problemas. E um hábito que o aconselhamento estimula e desenvolve é o de identificar e compreender as causas de um problema e de começar a tomar medidas práticas e concretas para o resolver.