Algo que é muito importante para mim, são relacionamentos. As pessoas
que estão ao meu lado, por vezes em caminhadas terríveis, têm um impacto
tremendo na minha vida.
De todos os
meus relacionamentos, penso que o mais forte e radical é o que tenho com Deus.
Com Ele eu procuro desenvolver uma relação íntima e pessoal (que é muito
diferente de "religião").
Essa relação é viva e activa, e por vezes passa por algumas lutas dentro
de mim. Deixo aqui o outcome de uma dessas lutas, num artigo que escrevi para a
revista "Lar Cristão".
Por vezes
ouço algo, numa mensagem ou pregação, que me faz sentir um pouco duvidosa ou
mesmo “desconfortável”. Como resultado, normalmente a seguir passo algum tempo
a “discutir” esse tema com Deus; a tentar perceber qual é a perspectiva dEle e
o que é que a Sua Palavra diz.
Quando
queremos perceber o ponto de vista de Deus acerca de algum assunto, é preciso
não só procurar passagens bíblicas que expliquem esse assunto, mas também
procurar exemplos dessa atitude ou tema, da forma mais abrangente possível. É
útil tirarmos algumas notas e deixarmos o assunto “em aberto”. Ao longo do tempo Deus pode-nos ir dando mais
dicas acerca disso. Algo que agrada a Deus, é que nós busquemos a Sua sabedoria
como a tesouros escondidos (Provérbios 2). Deus chama-nos a confiarmos na Sua
Palavra mais do que nas palavras de seres humanos. Estas, nós devemos analisar
à luz das Escrituras (Actos 17.11)
Recentemente
fui confrontada com uma dessas mensagens que me fez sentir extremamente
desconfortável e com pressa de sair para procurar esclarecer isso com Deus. Era
acerca de Pedro, da sua incrível impulsividade e da quantidade de atitudes
graves a que o seu temperamento o levou. Essa mensagem bem fundamentada com
passagens bíblicas dizia que nenhum outro discípulo tinha sido repreendido de
forma tão dura por Jesus (Mateus 16.23) e nenhum outro O negou de forma tão
intensa e vergonhosa, entre outras coisas. Terminava dizendo que o crente deve
levar uma vida estável, sem excessos.
Olhando para
Pedro, nós podemos rapidamente verificar que, apesar de errar frequente e
estrondosamente, ele teve privilégios únicos e experimentou o poder e a glória
de Deus como nenhum outro. Ele recebeu a revelação de que Jesus era, realmente,
o Messias; viu-O transfigurado e caminhou com Ele sobre as águas. Depois e
apesar de todas as suas atitudes desastrosas, ainda foi incumbido por Jesus de
apascentar as Suas ovelhas e chamado por Deus para levar o evangelho aos
gentios. Isto levou-me a concluir que as “quedas” de Pedro não o tinham
desqualificado perante Deus. Então procurei uma panorâmica mais alargada.
Ao longo de
toda a história do povo de Deus o que eu encontrei, na verdade, não foi
estabilidade mas sim atitudes completamente extravagantes. Noé andou 100 anos a
construir uma arca para sobreviver a um dilúvio, numa terra onde nunca tinha
chovido. Abraão saiu da sua cidade e pôs-se a caminho sem saber para onde ia.
Gideão mandou embora quase todos os seus homens, ficando apenas com 300 para
enfrentar o enorme exército dos midianitas. O jovem David avançou sem qualquer
hesitação contra o gigante Golias, com uma funda e algumas pedras. Depois da
ressurreição de Jesus, podemos verificar que o amor que os discípulos e os
novos convertidos tinham a Deus era visível, transbordante e completamente
impossível de controlar pelos religiosos “estáveis” ou por qualquer oposição ou
autoridade. Eles falavam de Jesus não por dever, mas porque não conseguiam
ficar calados.
Já
viste uma criança quando vem de uma festa maravilhosa ou conheceu alguém
incrível? Ela não consegue calar-se; quer contar tudo e falar sem parar desse
assunto que enche o seu coração.
O primeiro
mandamento é o amor a Deus. Não é
qualquer comportamento ou atitude, nem sequer obediência. Esta não deve ser
mais do que a consequência natural de um coração que ama profundamente o seu
Salvador. Àqueles que obedeciam fielmente a toda a lei, Jesus chamou raça de
víboras e sepulcros caiados. O que Deus procura não é simples obediência, mas
amor, paixão por Ele. E o verdadeiro amor não é estável, mas extravagante. É
capaz de percorrer quilómetros para ir procurar aquela pequena coisa que dá
prazer à pessoa amada… é capaz de passar pelos maiores sofrimentos cantando e
louvando, porque sabe que está na presença do seu Amado.
Deus
chama-nos a sair das nossas masmorras, sejam elas quais forem, e a ter como
alvo de vida diário, amá-lO e agradar-Lhe cada vez mais. Deus chama-nos a sair
do nosso conforto e segurança e a caminharmos com Ele, seja qual for o
percurso. Na Bíblia encontramos muitas promessas, mas há duas que me tocam
particularmente. Uma é que nós teremos aflições, que a nossa vida aqui será difícil
e muitas vezes com sofrimento terrível; mas Deus diz que, se tu O amares de
todo o teu coração, no meio desse sofrimento tu podes regozijar-te! Outra
promessa tem a ver com o fim da tua história. A Bíblia conta o último capítulo
da nossa história - reinando com Jesus. E é nesta realidade
que Deus quer que tu vivas.
No último
livro da Sua Palavra, na carta à igreja de Laodicéia, Jesus criticou a
estabilidade e conforto desta. Ele chega mesmo a afirmar: “Oxalá fosses frio ou
quente!” Frio? Parece que é até preferível alguém que está frio, que por alguma
razão se afastou, do que alguém morno: aqueles que vivem regularmente a sua
vida religiosa; que vão à igreja e fazem o que devem; que ouvem a Palavra (ou a
ensinam). Que não estão frios: não estão afastados, não voltaram as costas a
Deus, não O traíram (pensam!). Mas também não estão quentes. Não vibram de amor
por Ele. Podem falar dEle, até muito; mas não porque o seu coração “queima” se
o não fizerem. Não! Falam dele e fazem a Sua vontade por obediência. Mas a
estes, que não são frios nem quentes, o que é que Jesus diz que fará? Ele irá
vomitá-los da Sua boca. É isto que o Rei diz, não aos ímpios, mas aos crentes
mornos.
Na nossa
vida, o que precisamos não é tanto de mudar “coisas” ou mesmo comportamentos. O
que precisamos é de derramar perante Deus o nosso coração, de Lhe pedir que nos
ensine e capacite a amá-lO com todo o nosso ser e com todo o nosso
entendimento. Nunca se viu alguém com este tipo de amor ter uma atitude morna.
O nosso problema, no mais profundo do nosso coração, é falta de verdadeiro amor
a Deus.
Há duas
opções na vida de cada crente: levar uma vida estável, com “bom aspecto”; sem
grandes erros nem grandes vitórias; ouvindo a Palavra e tentando fazer o que
ela diz. Ou viver uma relação pessoal, íntima e profunda com o Senhor do
Universo; assumir as suas lutas e mesmo dúvidas ou fracassos e aprender a
ultrapassá-los com Deus; procurar cada dia descobrir o que é verdadeiramente
amar a Deus com todo o seu ser.
Qual é a
opção que tu escolhes?